segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Asas

O vento não toma seu pensamento
As águias não enxergam seus medos
A luz não absorve seu contexto
A brisa arrepia seus lampejos

As estrelas enfeitam suas histórias
Te forçam a acreditar naquela velha história
Mas você, como a lua, ilumina a esperança
E não deixa a luz te tocar com a lembrança
De que tudo tem que ser como antes
De que as estrelas dependem do seu sangue

Enquanto a lua se aquece do sol e do brilho das estrelas
Um pássaro sai do ninho para mudar esse contexto
Ele ouve, atento, todos os contos da noite
E vai até a lua, mesmo sem ter o alcance

De frente para as estrelas, ele cria coragem e começa a voar
Enfrenta todos os ventos, todas as chuvas, todas as luzes
Mas não desiste até tocar o seu par
Por fim, as asas se fecham de cansaço
Caem no espaço como um cego

Mas antes de fechar os olhos
O pássaro é puxado
Fica de frente com o pecado
Arranca um beijo da lua no céu estrelado

domingo, 8 de novembro de 2009

Atlântida

Sob os pés descalços de cansaço
Viaja um velho lunático
Carrega sua bolsa cheia de relatos
Antecipa a opinião dos fracos

De bar em bar vende suas histórias
Ao fundo, uma imagem para Hollanda
Olha para o chão por culpa das costas
Anda tão devagar que quase não se nota
Observa cada pessoa desatenta com a beleza
Com a beleza de quem enxerga um mundo diferente

Submerso em suas verdades
Questiona as nossas mentiras
Sugere que Deus seja o grande causador
Da escuridão, do medo
E deixa claro que é um grande vulcão em erupção

Com seu olhar pobre
Que só é pobre para os pobres
Desafia a insanidade contida
Respira a inseguraça coletiva
Termina com o sorriso da luta vencida

Depois de erguer os ombros em busca de fé
Pisa nas poesias reflexivas
Olha de canto para quem se senta no balcão
E profere uma alegria jamais vista
Um sentimento de felicidade que atravessa a avenida
Que passa pelos sambistas com máxima maestria

Se consome em gargalhadas dos copos na calçada
Exala esperança como o brilho de uma fada
Nos faz acreditar numa sanidade alterada

Olha para o céu e sonha com suas asas
Tira os pés do chão com sua leveza extraordinária
Dorme com as estrelas guiando sua jornada

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Vidas passadas

Já confundo realidade com sonhos
Troco amor por contos
Esqueço do real fazendo planos
Acredito na morte como descanso

Aceito a tristeza latejante
Escondo minha fé como pane
Abaixo a cabeça um instante
Aceito a luz dominante

Perco seu carinho, mas continuo aceitando o vinho
Piso nos seus ombros até alcançar o brilho
Retomo minha vida de redemoinhos

Fujo dos braços que um dia me abraçaram
Olho para trás e desafio o pecado
Apenas me diga onde está o fraco

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meio tempo

Sol e lua apenas querem ter sua chance
Raios de calor e luzes de frio buscam o alcance
Testemunhas desse amor são as nuvens e as estrelas
Lágrimas de dor caem sobre as asas das borboletas

Quando o sol desperta, tudo se alegra
Mas a simples companhia das aves não o completa
Ao se deitar, a lua o observa
E num simples gesto de amor, admira sua esfera

Já a lua, atenta
Espia pelas montanhas a beleza
Olha para o sol com a certeza

São raros os encontros
Ocasionais, banais
Mas cheios de paz