quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O direito de sonhar

Quem sabe como será o mundo depois do ano 2000? Nós temos uma única certeza: se ainda estivermos lá, então seremos pessoas do século passado e, pior ainda, seremos pessoas do milênio passado. No entanto, embora não possamos adivinhar como o mundo será, podemos imaginar o que queremos que seja. O direito de sonhar não figura entre os trinta Direitos Humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas se não fora por ele, o direito de sonhar, e pelas águas que ele oferece para beber, os demais direitos morreriam de sede. Deliremos um pouquinho. O mundo, que está de pernas para o ar, se colocará sob seus pés:

Nas ruas, os automóveis serão pisados pelos cachorros
O ar estará limpo dos venenos das máquinas, e não haverá mais contaminação causada pelos medos humanos e pelas paixões humanas

As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem será programada pelo computador, nem será comprada pelo supermercado, nem será vista pela televisão

A televisão deixará de ser o membro mais importante da família e será tratada como a tábua de passar roupas ou a máquina de lavar

As pessoas trabalharão para viver, ao invés de viver para trabalhar

Em nenhum país irão presos os jovens que se neguem a fazer o serviço militar, só farão os que queiram

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão a qualidade de vida de quantidade de coisas

Os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam que as fervam vivas

Os historiadores não acreditarão que aos países pobres, os encanta ser invadidos

Os políticos não acreditarão que aos pobres, os encanta comer promessas

O mundo já não estará em guerra contra os pobres, e sim contra a pobreza, e a indústria militar não terá remédio a não ser declarar-se quebrada para sempre

Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão

Os meninos da rua não serão tratados como se fossem lixo, porque não existirão meninos da rua
Os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não existirão meninos ricos
A educação não será privilégio de quem possa pagá-la
A polícia não será a maldição daqueles que não possam comprá-la
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, bem juntinhas

Uma mulher negra será presidente do Brasil, e outra mulher, também negra, será presidente dos Estados Unidos da América. Uma mulher índia governará a Guatemala, e outra, o Peru

Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória

A Santa Madre Igreja corrigirá alguns erros das pedras de Moisés. O sexto mandamento ordenará: “Festejarás o corpo”. O noveno, que desconfia do desejo, o declarará sagrado

A Igreja também ditará um décimo primeiro mandamento que havia esquecido ao Senhor: “Amarás a natureza, aquela que fazes parte”.
Todos os penitentes serão celebrantes, e não haverá noite que não seja vivida como se fora a última, nem dia que não seja vivido como se fora o primeiro.

*** Poema escrito por Eduardo Galeano, professor e escritor uruguaio, autor do livro “As Veias Abertas da América Latina”.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vazio

Já posso sentir aquele grande vazio dentro de mim. É como se uma parte da minha essência estivesse se esvaindo. Parte de um futuro tão desejado e claro que agora se resume à histórias. Não é o fim da vida, apenas classifico como mais um recomeço. Talvez realmente seja a hora de inovar, criar outros conceitos. Nunca imaginei que fosse abrir mão de algo tão importante pra mim, algo que está sempre reinventando minha própria essência. Pois bem, mudanças são inevitáveis e nos fazem crescer, portanto... O sonho ainda não acabou, ele apenas começou.