domingo, 4 de julho de 2010

Balinhas coloridas

Me lembro como se fora ontem. Nós fomos ao mercado e compramos aquelas balinhas coloridas. Eu nunca tinha provado, mas você me disse que elas eram cheirosas. Levavam uma letra marcada, assim como aquelas de chocolate. Entramos na fila, pagamos e andamos. Minutos depois chegamos em casa ofegantes. Aquela subida não era tão fácil de se subir como as retas. Comemos uma comida fresca e quentinha, até sentimos aquela sensação de alívio, sabe? Aposto que você ainda se lembra...

Assim que a lua tocou a janela da sala, que aliás, era fria e bem clarinha, ligamos a televisão e procuramos por um filme. Logo após a sintonia, abrimos aquele velho sofá-cama. Tudo pronto: filme, sofá e as balinhas coloridas. Me lembro como se fosse hoje, elas eram adocicadas e tinham gosto de frutas. Simbolizavam o doce sabor do nosso encontro. Mas a vida é engraçada, quando eu pegava as tais balinhas, algumas corriam pelos meus dedos e caiam nas frestas do sofá. Naquele momento eu já começava a perder os poucos abraços que me mantinham. Também me lembro como se tudo estivesse no lugar em que nunca esteve, como naquele dia em que fui até a sua casa. Sua mãe me tratou mal, como da última vez. Mas eu não me importava, também não me importava de viajar duas horas para te buscar. Nunca me importei com as dificuldades que enfrentei para chegar ao amor. Só que um pequeno detalhe mudou isso. Há seis anos, que mais parecem doze, você se viu em outra realidade. Se mudou para a terra dos sonhos e, sinceramente, espero que você os encontre.

Daqui, bem longe de ti, penso sempre nas suas cores, que são mais vivas do que aquelas balinhas. Difícil amar assim, mas tenho certeza que você se lembra desse dia, em que você me marcou mais do que aquelas letras em cima das balinhas coloridas. Aposto que você se lembra...

Passo tímido

Todos os dias reza o mesmo terço
Levanta os braços na altura do céu
Abaixa a cabeça mirando a vergonha
Revela um olhar já conhecido por todos

Se esconde atrás da profunda miragem
Suas orelhas pesam fartas de cansaço
Estão cansadas de tanta insegurança
Os mesmos todos que a fitam
Se acabam por consumi-la em patifaria

Mesmo depois de longos e tenebrosos sinos
Que badalam gritando feito um cigano
Se sente triste pela vida
Não admite o fato de ser um sorriso no meio de bochichos
Para ela, o sol não nasceu nas colinas
Ele apenas se furtou de proclamar a vida que ela queria

Como se não bastasse a chuva que perdura por tantos anos
Uma parte do seu sangue se mistura com a pele
Já não há diferença entre uma lágrima e um suspiro
A sua razão em buscar os sonhos mais lindos
Se dissolve lentamente ao pé do ouvido