quinta-feira, 31 de março de 2011

Acaso

Quanta saudade, enfim
A praia deserta ao partir
Criou-se afeto em mim
Que dia tão sem fim
Nada como o que há por vir
A doce saudade de ti
O teu suor por aqui

Não ria de mim, amor
Alimente aquele monte de poréns
Esqueça aquela ternura
Confie em si e acredite em mim

Eu sei, bem ali
Tudo se mudou nesse tempo
Nada mais te remete ao constrangimento
Se mude daqui

Entenda, não te quero longe de si
Mas se isso custar o meu fim
Prefiro sair por aí
Andar e estar
Voltar e sumir
Só por aí

Parece distante ao ouvir
Imagine ao dizer...
Difícil mesmo é entender
Nem me arrisco mais
Não por isso
Só por acaso
E sei lá, ainda espero
Nem sei mais o que
Só sei que é você

sexta-feira, 25 de março de 2011

Dona da emoção

Assim, mais que de repente e um tanto inocente
Feito aquele senhor berrando no batente
E os anúncios de amor jogados no presente
Um pouco de vida latente
Como os dias tingidos e de sempre

Oh, amor, quanta sobriedade
Quanto palavriado
Quantos esquadros...

Nem parece que você é de mentira
Odeio lembrar que é de verdade
Essa pressa do mundo é incrível
E nos inquieta pelo escuro

O ontem chegou até aqui
E me fez passar por cima dos que cantam
Passar a vez é tão normal
O que não convém é se acomodar
Mas quanta reflexão em vão...

Sim, senhor, patrão ou doutor
Ainda que seja tão lúcido o meu perdão
Me desafio a deixar o lírico numa mão
Tento não me enquadrar nessa posição
Nesse jargão...

Mas então, como dizem vocês
Senhoras ou madames
Minha vida não carece de emoção
Já existe uma tal de dona do meu coração

quarta-feira, 16 de março de 2011

Fé no amor (ou a ausência dela)

E quando se deu conta, já estava na frente da janela dando um nome diferente para cada estrela. Pensou que estivesse sozinha no quarto, pois ouvia o som alto e a gritaria empolgada vindos da sala. Na verdade, ela se sentia sozinha mais uma vez, mas sabia que era também a última vez que sentiria essa falta de sensações.

- Você se perdeu da sala?
- Não sei, acho que me perdi de mim.
- Todos nós nos perdemos um dia.
- Já cansei de me perder todos os dias.

A falta de fé que ela tinha no amor, fez com que ele não soubesse mais o que responder. Por conta disso, preferiu se juntar ao silêncio dela e olhou para o mesmo lado do céu que ela. Minutos se passaram ali, e os dois seguiam quietos observando as estrelas. Eram muitas, aliás, indicando que o dia seguinte seria de sol intenso. Depois de algum tempo, ele trocou o foco do seu olhar aos poucos, disfarçando o máximo possível para que ela não se incomodasse. O novo destino dos olhos dele era o rosto dela.

- Você tem o nariz tão pequeno... parece feito à mão.
- Minha mãe também dizia isso. E dizia também que, um dia, eu encontraria um rapaz merecedor do meu amor.
- E você nunca o encontrou? Afinal, estamos juntos aqui, agora...
- Eu encontrei. Umas duas ou três vezes. No começo, todos são incríveis, mas depois...
- Seus cabelos mudam de cor quando você sai da luz. É como se você saísse e voltasse para essa conversa.
- Eu sou assim. Às vezes estou, às vezes não.
- Então acho que você não está, porque desde que começamos a conversar, não vi seus olhos na minha direção nenhuma vez.
- Deixa de ser bobo. Não preciso te olhar pra sentir o que você diz.

E ela continuou não olhando para ele. Dentro dela, havia uma vontade imensa de olhá-lo, mas ela também disfarçava bem. Mais alguns minutos se passaram, e ele, já impaciente, não aguentou mais aquele silêncio.

- Me desculpe, mas quando você resolver olhar para o lado e me enxergar de verdade, eu volto para esse quarto.
- ...

O silêncio dela foi o estopim para ele.

sexta-feira, 11 de março de 2011

De mim pra nós

No meio do mato, aquela ausência de barulho me desafiava a pensar. Era como ter todo o tempo do mundo pra mim mesma, sem ninguém pra encher a minha cabeça ou me impedir de refletir. Pensei em coisas que não queria, por saber que isso me mudaria inteira. Não tinha certeza se queria mesmo mudar, mas acabei pensando demais. "Num silêncio, escutei uma disritmia em meu coração que se instalou de vez."

Pois é, acho que dessa vez deu. Deu pra ocupar a cabeça com aquilo que me parecia uma loucura. Mesmo eu acreditando que esta não era uma loucura sã, resolvi prosseguir. E deu no que deu. Em mim mesma com você.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Repouso no chorar

O silêncio conforta o meu dia que vira noite
Insiste em não me deixar repousar
Passa por mim até a madrugada
E acaba por não me deixar chorar

O ar que sussura com a chegada da manhã
Me aquece enquanto o sono estiver
Não atende a porta outra vez
E faz com que eu me prive do saber

O sol no teu rosto esquenta o meu travesseiro
Te faz chorar nos meus sonhos
Me distancia um pouco mais de você
Quando penso em te escrever

Você já é assim, não desgruda do que quero sentir
E também não quero que saia de mim
Te manter aqui é o que sentencio
Bem pertinho dos meus carinhos