quarta-feira, 16 de março de 2011

Fé no amor (ou a ausência dela)

E quando se deu conta, já estava na frente da janela dando um nome diferente para cada estrela. Pensou que estivesse sozinha no quarto, pois ouvia o som alto e a gritaria empolgada vindos da sala. Na verdade, ela se sentia sozinha mais uma vez, mas sabia que era também a última vez que sentiria essa falta de sensações.

- Você se perdeu da sala?
- Não sei, acho que me perdi de mim.
- Todos nós nos perdemos um dia.
- Já cansei de me perder todos os dias.

A falta de fé que ela tinha no amor, fez com que ele não soubesse mais o que responder. Por conta disso, preferiu se juntar ao silêncio dela e olhou para o mesmo lado do céu que ela. Minutos se passaram ali, e os dois seguiam quietos observando as estrelas. Eram muitas, aliás, indicando que o dia seguinte seria de sol intenso. Depois de algum tempo, ele trocou o foco do seu olhar aos poucos, disfarçando o máximo possível para que ela não se incomodasse. O novo destino dos olhos dele era o rosto dela.

- Você tem o nariz tão pequeno... parece feito à mão.
- Minha mãe também dizia isso. E dizia também que, um dia, eu encontraria um rapaz merecedor do meu amor.
- E você nunca o encontrou? Afinal, estamos juntos aqui, agora...
- Eu encontrei. Umas duas ou três vezes. No começo, todos são incríveis, mas depois...
- Seus cabelos mudam de cor quando você sai da luz. É como se você saísse e voltasse para essa conversa.
- Eu sou assim. Às vezes estou, às vezes não.
- Então acho que você não está, porque desde que começamos a conversar, não vi seus olhos na minha direção nenhuma vez.
- Deixa de ser bobo. Não preciso te olhar pra sentir o que você diz.

E ela continuou não olhando para ele. Dentro dela, havia uma vontade imensa de olhá-lo, mas ela também disfarçava bem. Mais alguns minutos se passaram, e ele, já impaciente, não aguentou mais aquele silêncio.

- Me desculpe, mas quando você resolver olhar para o lado e me enxergar de verdade, eu volto para esse quarto.
- ...

O silêncio dela foi o estopim para ele.

Um comentário:

aline marangoni disse...

nunca antes um texto seu fez tanto sentido.